A ansiedade tem cura?
- Joyce Talma
- 8 de mar. de 2024
- 4 min de leitura

Provavelmente se você chegou até aqui é porque tem se queixado de algumas condições que julga ser consequência da ansiedade, não é mesmo? Mas, antes de falar a respeito da cura, se torna válido conceitualizar a ansiedade, apresentar seus sintomas e os principais transtornos.
Como você descreveria a ansiedade? Muitas pessoas acreditam que a ansiedade é um estado ruim e problemático, ao ponto de reprimir ou negar qualquer experiência, dizendo a si mesmo "não posso sentir ansiedade". Outras pessoas se sentem incapazes ou fracas por sentir ansiedade. Há, ainda, aqueles que acreditam que a ansiedade é a expressão de alguma falha em seu organismo.
Mas afinal de contas, o que é ansiedade?
A ansiedade é uma emoção, como qualquer outra (felicidade, tristeza, raiva, etc.). As emoções são sensações intensas e conscientes desencadeadas por nossa avaliação cognitiva ou pensamento sobre determinado acontecimento ou situação. Essa avaliação determina que emoção sentimos.
Por exemplo, se percebemos que fomos capazes de desempenhar uma função, ficamos felizes. Se interpretamos que fomos ofendidos ou injustiçados por alguém, sentimos raiva. E, se acreditamos que estamos numa situação de perigo, sentimos ansiedade.
Compreendendo a ansiedade como resposta do nosso corpo ou da nossa interpretação frente a alguma situação de perigo, podemos considerar essa emoção como normal e essencial para a nossa sobrevivência. De maneira geral, as emoções exercem um papel de comunicação e adaptação frente às circunstâncias cotidianas e a vida em sociedade.
Em outras palavras, a ansiedade surge quando seu cérebro detecta uma situação atual ou iminente de perigo, que pode ser real ou imaginária. Entende-se por perigo não apenas situações relacionadas à vida ou morte, mas também ao desempenho profissional, às relações sociais ou qualquer outro âmbito comum da nossa vivência.
Ao perceber o problema, o cérebro prepara seu corpo disparando adrenalina, dentre outros mecanismos, para que você consiga enfrentar a situação ou fugir, caso necessário. É exatamente nesse ponto que as respostas fisiológicas ou sintomas da ansiedade aparecem, como enrijecimento dos músculos, respiração ofegante, coração acelerado, suor, tremores, atenção voltada para o problema, pupilas dilatadas, entre outros.
Imagine que você está andando numa rua deserta e de repente aparece um cachorro bravo em sua direção. Nesse momento você precisa de medo e ansiedade para enfrentar ou correr do perigo. Os sintomas fisiológicos da ansiedade fornecem força e atenção para resolver o problema. Percebe? É completamente funcional e adaptativo. A ansiedade pode ser comparada como o sensor de ré de um carro, no qual anuncia um obstáculo na manobra.
Peraí, talvez você se pergunte: "se a ansiedade é uma emoção normal, por qual motivo eu sofro tanto?"
O problema acontece quando interpretamos as situações como altamente ameaçadoras quando, na verdade, não são. Isto é, quando superestimamos o risco dos problemas e subestimamos os nossos recursos ou habilidades de enfrentamento. Nesses casos, a ansiedade perde sua função adaptativa por ser desproporcional à realidade.
Imagine o mesmo sensor de ré, porém "apitando" ou avisando que um obstáculo está logo atrás quando na verdade o caminho está livre. Quando esse mecanismo se torna disfuncional surgem os transtornos, uma vez que a apresentação da ansiedade, bem como sua intensidade e frequência não são coerentes ao contexto e ao nível de desenvolvimento pessoal, gerando sofrimento e prejuízos nas funções diárias.
Quais são os transtornos de ansiedade?
Existem sete transtornos de ansiedade, cada um com seu grupo particular de sintomas e representam a manifestação disfuncional da ansiedade, de acordo com estímulos e situações diferentes. Vale ressaltar que os transtornos de ansiedade diferem da ansiedade normal por serem excessivos, persistentes e prejudiciais quanto ao funcionamento diário. A seguir vou citar aqueles que aparecem com mais frequência na clínica psicológica e psiquiátrica.
No Transtorno de Pânico a ansiedade é disparada frente às próprias reações fisiológicas e psicológicas que não deveriam causar pavor ou medo. Qualquer sensação ou percepção anormal no corpo, como respiração alterada ou batimentos cardíacos acelerados, vertigens, suores e tremores são vistos como sinais de colapso iminente, insanidade ou morte, quando na verdade não são. Assim, a pessoa com esse transtorno desenvolve medo de ter um ataque de pânico.
O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é caracterizado pela ansiedade e preocupação constantes e excessivas sobre diversos aspectos da vida. Os pensamentos se voltam para a imaginação de todas as possíveis consequências negativas das situações enfrentadas e de maneiras para impedi-las. O transtorno, muitas vezes, é acompanhado por sintomas físicos de estresse, como insônia, tensão muscular, problemas gastrointestinais, etc.
Já o Transtorno de Ansiedade Social (TAS) ou Fobia Social ocorre na presença de medo e ansiedade sobre ser julgado pelos outros, especialmente nas situações sociais. Essas situações incluem apresentações, festas, encontros, comer em locais públicos, usar banheiros públicos ou simplesmente encontrar novas pessoas. Os sintomas incluem tensão extrema ou “paralisia”, preocupação obsessiva com interações sociais e uma tendência ao isolamento e à solidão.
Enfim, agora que você compreendeu o que é a ansiedade e suas manifestações normais e anormais, posso responder a pergunta - "a ansiedade tem cura?"
Partindo do princípio de que a ansiedade é uma emoção, pode-se afirmar que não tem cura. Afinal de contas, todos nós precisamos da ansiedade para nos proteger e nos preparar diante dos desafios reais. As emoções não são ruins ou problemáticas. O problema está na nossa percepção equivocada sobre as mesmas ao não aceitá-las e não continuar funcionando apesar delas.
Muitas pessoas presumem que “pouco” ou “nada” pode ser feito com relação aos transtornos de ansiedade, parte dessa crença é devido a condição de viverem por tanto tempo com o problema que se acostumaram a ele. Ou, ainda, devido a terapia ineficaz realizada outrora. Porém todos os transtornos de ansiedade têm tratamento, de modo que é possível reduzir parcialmente ou totalmente os sintomas que prejudicam a qualidade de vida.
Por esse motivo, se você se identifica com os sintomas dos transtornos de ansiedade, busque ajuda médica e psicológica para fazer uma avaliação, receber o diagnóstico e o tratamento correto para seu problema.
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